Contexto
As infecções bacterianas ocorrem em 43—59% dos pacientes cirróticos internados em unidade de terapia intensiva com impacto na morbimortalidade. Um aumento na frequência de bactérias multirresistentes e com resistência estendida foi descrito em infecções bacterianas em pacientes cirróticos, com um impacto adverso na sobrevida.
Objetivo
Caracterizar as infecções adquiridas na comunidade, relacionadas aos cuidados de saúde (RCS) e hospitalares em pacientes cirróticos e seu impacto na ocorrência de desfechos adversos.
Métodos
Este estudo incluiu todos os pacientes cirróticos internados em uma unidade de terapia intensiva especializada em doenças hepáticas e gastrointestinais no Brasil entre janeiro de 2012 e junho de 2018. A frequência e topografia das infecções foram avaliadas retrospectivamente, bem como a frequência de bactérias multirresistentes e resistência estendida, e seu impacto na ocorrência de lesão renal aguda, síndrome hepatorrenal, insuficiência hepática crônica agudizada, sepse e mortalidade.
Resultados
Um total de 374 infecções foram observadas e classificadas como infecções adquiridas na comunidade (22%), RCS (34%) e infecções hospitalares (44%). Oitenta e nove (54%) episódios de infecções hospitalares foram identificadas como segunda infecção. Peritonite bacteriana espontânea (32%) e infecção do trato urinário (23%) foram as infecções mais comuns. As infecções comprovadas por cultura foram positivas em 61% dos casos, principalmente ocasionadas por bactérias gram-negativas (73%). Lesão renal aguda, síndrome hepatorrenal e sepse foram observados respectivamente, em 48%, 15% e 53% dos casos. Bactérias multirresistentes e resistência estendida foram observadas respectivamente, em 35% e 16%, principalmente nos RCS (48% vs 26% em infecções adquiridas na comunidade, P=0,02) e infecções hospitalares (58% vs 26% em infecções adquiridas na comunidade, P=0,0009). Os resultados adversos foram observados com mais frequência em indivíduos com infecções nosocomiais em comparação com infecções relacionadas aos cuidados de saúde e comunitárias. Infecções hospitalares, RCS e ocorrência de uma segunda infecção foram independentemente associadas à mortalidade intra-hospitalar.
Conclusão
Infecções hospitalares, relacionadas aos cuidados de saúde e reinfecções estão cada vez mais associadas a bactérias multirresistentes e/ou resistência estendida e são preditores independentes de mortalidade intra-hospitalar. Seu reconhecimento e seleção adequada de regimes antibióticos empíricos apropriados são medidas importantes para reduzir a mortalidade intra-hospitalar.